GIOVANI O PREGADOR BATISTA NACIONAL VS LUÍS O CALVINISTA PROGRESSISTA



      • Luís Magalhães ‎para Giovani O Pregador quero lembrar-te este título, amado: "500 anos depois: Recordar a Reforma, olhando para os desafios comuns da cristandade"
        Sabes irmão, a celebração dos 500 anos da Reforma protestante ocorreu sem conotações triunfalistas ou particularistas. "Ela ocorreu em espírito ecuménico e na noção de que a Igreja da Reforma deve ser sempre Igreja em Reforma (semper reformanda)", afirmou o moderador do CMI, Walter Altmann

        Há quase 500 anos, católicos e luteranos passaram a percorrer caminhos quase paralelos, mas separados. Antes disso, há quase 1.000 anos, as cristandades oriental, ortodoxa e ocidental católica resolveram tomar estradas diferentes. Por isso, afirma Walter Altmann, pastor luterano e moderador do Conselho Mundial de Igrejas – CMI, a celebração da Reforma recordou o evento ocorrido 500 anos atrás, mas “o seu olhar deve estar voltado à frente, detectando os desafios comuns que a cristandade como um todo tem diante de si e refletindo sobre a substância do testemunho evangélico diante deles”.

        O ex-presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB - explica que, inspirado na vocação para a unidade visível da cristandade, o movimento ecuménico deve tentar “transpor para a realidade o conhecimento de que a vontade de Deus é maior do que as nossas estruturas e concepções teológicas construídas ao longo da história”. E lamenta: “Com relativa facilidade, caímos, então, na tentação de nos entrincheirarmos nos nossos muros confessionais estabelecidos. E isso é mais danoso para a integridade da mensagem cristã do que os antagonismos externos”.

        Walter Altmann é pastor protestante luterano brasileiro, moderador do Conselho Mundial de Igrejas CMI e ex-presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. É doutor em teologia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha, com tese sobre o Conceito de tradição em Karl Rahner. Foi professor de Teologia Sistemática da Escola Superior de Teologia – EST, de São Leopoldo, Brasil (http://www.est.edu.br/ ), da qual foi reitor de 1981 a 1987. De 1995 a 2001, exerceu o cargo de presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas - CLAI, com sede em Quito, Equador. De 2003 a 2007, foi membro do Conselho da Federação Luterana Mundial - FLM, com sede em Genebra, Suíça. Entre as suas obras, destacamos Lutero e libertação: Uma releitura de Lutero em perspectiva latino-americana (Editora Sinodal, 1994).

        Confira a entrevista. » http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4011&secao=370 
         
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        há 6 minutos ·  · 1 · 
      • Luís Magalhães IHU On-Line – O que significa ser ecumênico diante do atual contexto contemporâneo?

        Walter Altmann – Ser ecumênico significa construir pontes, pontes que conduzam a encontro e crescimento, a intercâmbio, compreensão mútua e cooperação. Trata-se de viver uma identidade cristã centrada na graça divina e na liberdade evangélica, contribuindo para superar tanto esquemas rígidos e intolerantes quanto posturas de liberalismo sem responsabilidades. Leva a sério e respeita convicções divergentes, apresenta as convicções próprias com clareza sem pretender superioridade ou tentar imposições. Em suma, fomenta o encontro de pessoas livres e maduras, e assim se empenha pela unidade à qual Deus convoca a Igreja.

        IHU On-Line – Em sua opinião, em que pontos podem ser encontrados os grandes pilares teológicos do ecumenismo hoje? Por outro lado, que aspectos teológicos ainda obstaculizam a unidade?

        Walter Altmann – As ênfases que deram origem ao movimento ecumênico continuam perfeitamente válidas hoje em dia, ainda que sua compreensão e seus desdobramentos tenham sofrido adaptações e aprofundamentos: missão e evangelismo; diaconia e ação social; doutrina; educação cristã. Mais especificamente, o movimento ecumênico inspira-se na vocação para a unidade visível da cristandade, no testemunho profético da mensagem cristã, no empenho decidido por paz, justiça e cuidado para com a Criação. Para tanto, recorre a suas fontes espirituais a partir da vocação em Cristo: fé, esperança e amor.
        Além de obstáculos externos provenientes da fragmentação pós-moderna e de concepções militantemente anticristãs, há os obstáculos internos das dificuldades em transcendermos particularismos denominacionais, em aprofundarmos as implicações daquilo que fundamentalmente nos une. Em suma: resistimos a transpor para a realidade o conhecimento de que a vontade de Deus é maior do que nossas estruturas e concepções teológicas construídas ao longo da história. Com relativa facilidade, caímos, então, na tentação de nos entrincheirarmos em nossos muros confessionais estabelecidos. E isso é mais danoso para a integridade da mensagem cristã do que os antagonismos externos.
        há 4 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães IHU On-Line – Como moderador do Comitê Central do CMI, quais são as prioridades dessa comunidade de igrejas hoje?

        Walter Altmann – Além das prioridades históricas e fundamentais da busca da unidade visível, da missão, do testemunho profético e da ação social, há prioridades mais específicas, tais como: estudo mais aprofundado da natureza da Igreja; reflexão sobre um testemunhar ecumênico acerca da fé cristã, superando quaisquer posturas proselitistas, como abordar questões éticas candentes no âmbito da moral pessoal; espiritualidade; educação e formação ecumênicas; exame das consequências do cenário religioso cambiante na atualidade; igualdade entre mulheres e homens; espaço para os jovens e pessoas com deficiência; superação do racismo; questões indígenas; relações econômicas internacionais calcadas na justiça; defesa dos direitos humanos; compromisso com a paz, em particular buscando mediações e encontros em situações de conflito; cuidado para com a natureza, em especial preocupação com as mudanças climáticas; prevenção do HIV/Aids e cuidado para com pessoas por ele afetadas. Desdobrando em projetos específicos, haveria muito mais a acrescentar.

        IHU On-Line – Como o CMI está envolvido no diálogo inter-religioso?

        Walter Altmann – O diálogo e a cooperação inter-religiosa é uma das áreas programáticas do CMI. No dizer de Hans Küng , “não pode haver paz entre as nações se não houver paz entre as religiões”. A “paz entre as religiões” também pode se converter em uma atitude propositiva comum, em defesa da ética nos afazeres políticos e nas relações internacionais; na rejeição decidida de qualquer tipo de espírito belicista, propiciando, ao invés, a construção de uma cultura de paz; no cuidado com a nossa casa comum, a saber, o planeta Terra. Particular atenção o CMI tem dado à situação no Oriente Médio, buscando espaços de encontro e canais de comunicação para o entendimento entre os povos. Aí, também em consideração à Terra Santa, por onde Jesus Cristo peregrinou, um destaque especial é dado à busca de vias de diálogo entre as religiões abraâmicas, a saber, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Há, nesse contexto, também uma preocupação com a crescente migração de pessoas cristãs do Oriente Médio para outros continentes, fazendo minguar a comunidade cristã naquela região, onde se encontram nossas origens históricas.
        há 3 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães IHU On-Line – No âmbito católico, a criação, por parte de Bento XVI, dos ordinariatos especiais para comunidades anglicanas que desejam se converter ao catolicismo gerou muita polêmica no âmbito ecumênico. Nos EUA, já há comunidades luteranas solicitando a mesma “acolhida”. Como o senhor avalia o diálogo luterano-católico ao longo do papado de Bento XVI?

        Walter Altmann – De um lado, deve haver a liberdade para “conversões” de uma confissão religiosa a outra conforme a livre consciência de cada qual. E cada confissão religiosa terá suas próprias modalidades de acolhida de quem deseje aderir a ela. Nesse sentido, a criação dos ordinariatos não deixa de ser uma modalidade de reconhecimento da proveniência verdadeiramente eclesial de quem nele seja acolhido. Por outro lado, o ecumenismo não incentiva medidas que possam ser consideradas proselitistas e venham a tensionar as relações entre as confissões religiosas, mas se empenha por processos de aproximação e encontro mútuos, que venham a explorar caminhos de unidade. Quanto ao diálogo católico-luterano, nos últimos anos ele tem prosseguido ininterruptamente como reflexo do compromisso de ambas as confissões, embora não se vislumbrem, no atual momento para o futuro próximo, novos passos significativos no processo de reconhecimento mútuo.

        IHU On-Line – Luteranos de todo o mundo estão em contagem regressiva para celebrar os 500 anos da Reforma Protestante, em 31 de outubro de 2017. Como esse acontecimento e a figura de Lutero nos inspiram a refletir sobre o ecumenismo hoje?

        Walter Altmann – A celebração dos 500 anos da Reforma Protestante deve ocorrer sem conotações triunfalistas ou particularistas. Ela deve ocorrer em espírito ecumênico e na noção de que a Igreja da Reforma deve ser sempre Igreja em Reforma (semper reformanda). Por isso mesmo, ainda que a celebração recorde o evento ocorrido 500 anos atrás, seu olhar deve estar voltado à frente, detectando os desafios comuns que a cristandade como um todo tem diante de si e refletindo sobre a substância do testemunho evangélico diante deles. Lutero jamais pretendeu fundar uma “nova” igreja, muito menos que um segmento da cristandade se designasse por seu nome, o que ele rechaçou com veemência, mas que, contudo, por contingência histórica, aconteceu. Assim, só será fiel ao espírito da Reforma aquela celebração que refletir a sério tanto as limitações da própria Reforma quanto a contribuição que ela pode proporcionar não a uma parte, mas ao conjunto da cristandade.
        há 3 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães IHU On-Line – Como o senhor avalia os frutos da Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação , assinada por luteranos e católicos? Depois de cinco séculos de separação, que outras “declarações conjuntas” luteranos e católicos poderiam fazer neste momento?

        Walter Altmann – Sem dúvida, a Declaração Conjunta é um marco histórico de extraordinária proporção não apenas nas relações católico-luteranas, mas também para o todo do diálogo ecumênico. Aliás, é significativo que também o metodismo mundial veio a oficialmente referendar essa declaração. Contudo, como em relação a todos os avanços desse tipo, seu alcance não pode consistir em ser celebrado, mas em tomá-lo a sério como impulso para novas possibilidades de entendimento e cooperação. A celebração só tem sentido quando acompanhada de compromisso para novos passos na caminhada ecumênica. Há entre o povo cristão um anseio muito grande, já bastante reprimido, de que o entendimento venha a avançar oficialmente nas áreas do reconhecimento mútuo dos ministérios e na celebração conjunta da Eucaristia, refletindo avanços do diálogo teológico nessas áreas.

        Por exemplo, enquanto não se alcança a comunhão eucarística plena, poderia ser exercitada mais a chamada “hospitalidade eucarística”, em que uma confissão abre as portas de sua celebração eucarística para participação de membros de outra confissão. Realisticamente, porém, reconhecemos que não há à vista reconhecimentos oficiais nesses tópicos. Assim, sou de opinião que devemos encarar precisamente o próximo evento dos 500 anos da Reforma como ocasião para uma visão conjunta de nossa história e de nosso compromisso para com o futuro das relações entre a Igreja Católica e as igrejas da Reforma.

        IHU On-Line – A partir da tradição brasileira e latino-americana, como a teologia pode estimular a caminhada ecumênica, e em que a ação ecumênica pode desafiar os debates teológicos?

        Walter Altmann – No Brasil e na América Latina, provavelmente em boa medida como reflexo de um modo peculiar de ser em consonância com nossa realidade cultural, desenvolvemos uma peculiar sensibilidade para as situações concretas e uma capacidade de respondermos a elas pastoralmente e de maneira pró-ativa. Cremos, inclusive, que esse modo de ser é não só compatível, como radicalmente apropriado, quando procuramos fazer jus ao desafio evangélico de sermos uma comunidade peregrina a serviço das pessoas mais necessitadas e mais vulneráveis. Não por acaso desenvolveram-se aqui a concepção teológica e a atitude prática de “opção preferencial pelos pobres”. Esse é também, precisamente, um terreno em que membros de diferentes confissões religiosas podem encontrar-se com grande “naturalidade” e, como decorrência, vivenciando o ser “um” na fé e na esperança. É absolutamente necessário, então, que o diálogo ecumênico reflita não apenas sobre as decorrências práticas de avanços no trato teórico de questões teológicas, como com igual intensidade sobre decorrências dos avanços pastorais e da ação profética das comunidades cristãs para o trato teórico dessas questões.
        há 2 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães IHU On-Line – Como as igrejas podem se comprometer de forma mais eficaz com os sujeitos contemporâneos mais vulneráveis no contexto brasileiro, como as mulheres, os negros, os índios e os homossexuais?

        Walter Altmann – Cada um dos grupos mencionados na pergunta tem as suas especificidades e merece uma abordagem adequada a cada um deles, seja do ponto de visto sociológico ou do teológico. Devem ser considerados aspectos culturais e condicionamentos históricos, explorados os modernos conhecimentos científicos e observadas as dimensões pastorais. As respostas, portanto, sejam de concepção teórica quanto de abordagem prática, não serão simples, mas diversificadas, e é inevitável, inclusive, que venham acompanhadas de controvérsias, como a experiência tem demonstrado. Mas o que todos esses grupos têm em comum, ainda que em modalidades e intensidades diferentes, é a dolorosa experiência de opressão e discriminação. Todos eles seguem sofrendo odiosa violência. Portanto, o ponto de partida do posicionamento teórico e prático das igrejas, seguindo os preceitos do evangelho, é a sua aceitação incondicional como pessoas criadas à imagem de Deus. Ou seja, qualquer violência, injustiça ou exclusão deve ser entendida como cometida contra o próprio Deus. No posicionamento das igrejas, reflete-se, então, até que ponto elas levam realmente a sério a concepção teológica de que a justificação das pessoas se dá por graça e fé.

        IHU On-Line – Em âmbito brasileiro, que aspectos teológicos, sociais ou culturais, segundo o senhor, são os maiores impedimentos à unidade cristã? É possível superá-los?

        Walter Altmann – Em parte, a diversidade religiosa reflete não apenas o desenvolvimento histórico de cada uma das confissões, mas também diferentes estratificações sociais em sua membresia. Sem entrar em detalhes dessa ordem, mas adotando uma visão “panorâmica”, podemos registrar na realidade brasileira, de um lado, uma postura “sincrética” que contém uma boa dose de tolerância e aceitação do diferente, inclusive com mecanismos de assimilação para dentro de novas concepções e práticas, mas que, também pode implicar em indiferença e relativização de convicções e crenças. De outro lado, vemos igualmente exacerbação de convicções próprias levando à competição desenfreada entre confissões religiosas, até o ponto de levar à exclusão e à condenação de quem é diferente. Nesse cenário, não há outro caminho do que o empenho perseverante na caminhada ecumênica. É possível? Quem é cristão crê que “em Deus, tudo é possível”. Portanto, não temos razão para esmorecer.

        IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

        Walter Altmann – O ecumenismo é um projeto apaixonante. Séculos de divisão (se pensamos na Reforma na cristandade ocidental) ou, mesmo, um milênio de divisão (se pensarmos na divisão entre cristandade oriental, ortodoxa, e ocidental católica), com todas as estruturas e tradições humanas arraigadas, convicções doutrinárias e morais estabelecidas e muitas vezes divergentes, uma história acompanhada de conflitos profundos, até mesmo guerras entre confissões (ainda que sempre tenha havido um pano de fundo político e econômico nos conflitos) – buscar a superação de tudo isso em nome de uma vocação divina comum, um empenho conjunto no anúncio do amor divino e em prol da paz, da justiça e de respeito pleno à criação de Deus, não haveria de ser um empreendimento simples, mas é tanto mais fascinante. E, assim como responde a uma vocação de Deus, encontra-se também sob a sua misericordiosa promessa. É belo ser ecumênico.
        há 2 minutos · 
  • Tanto na atitude do conservador super-angustiado [Giovani O Pregador] como na posição do revolucionário intra-eclesial, deparamos com a ausência de fé autêntica. Quem crê [calvinistas liberais ecuménicos e todos os demais crentes progressistas ecuménicos] não tem angústia perante a história, porque sabe da esperança que a habita.

    Walter Kasper, "Introdução à fé", pág. 163
     ·  ·  · há cerca de uma hora
    • Gostas disto.
      • Luís Magalhães Giovani O Pregador existe um livro (e um outro... e um outro) que te ajuda a crescer. Vou citar dois: "Mentiras Fundamentais da Igreja Católica [mas que se refere também às outras confissões cristãs ou judaico messiânicas] - Como a Bíblia foi Manipulada", do espanhol Pepe Rodriguez
        há cerca de uma hora ·  · 1
      • Luís Magalhães O outro: Mentiras sobre Jesus - Desafio para o diálogo religioso, do brasileiro José Pinheiro de Souza
        há cerca de uma hora ·  · 1
      • Luís Magalhães Depois de os leres passa para a segunda fase. Acesse o link http://www.ionline.pt/portugal/d-januario-torgal-no-fim-pagamento-da-divida-vamos-ter-uma-multidao-desenfreada-pobres 
         
        www.ionline.pt 
        Polémico e sem papas na língua, o bispo das Forças Armadas defende que a Igreja, mais do que nunca, “deveria falar”
        há cerca de uma hora ·  · 1 · 
      • Luís Magalhães Giovani O Pregador vou-te citar as palavras deste douto bispo. É legítimo que os padres e bispos aufiram grandes rendimentos? Isso choca com a doutrina da Igreja?

        Na Universidade Católica, os professores sacerdotes ganham menos do que os leigos. Eu devo dizer que não sei se concordarei com isso.

        Acha, então, que um padre deve ganhar o mesmo que um leigo?

        Não é bem isso. Penso que um sacerdote deve ganhar o suficiente para levar, com dignidade, a sua vida. Não acho que deva ter um salário muito elevado. E acima de tudo deve, na sua vida pessoal, dar testemunho de amor aos pobres e de desprendimento. É uma regra fundamental. Eu posso ter um fato bom, não muito caro, mas bom e digno. Isso não tem mal nenhum. Mas não vou ter dez fatos. Pode ser, de facto, questionável que um bispo tenha automóvel, casa de campo, passe a vida em turismo, tenha um andar principesco numa das melhores zonas da cidade, frequente os restaurantes mais caros de Lisboa. Isso sim, pode ser questionável.

        É legítimo que as pessoas queiram saber o que um bispo faz com o seu dinheiro?

        O que eu acho é que quem assume campos públicos deveria publicitar os bens que possui...

        Mas eu perguntava-lhe em relação aos membros da Igreja.

        A mim não me repugna absolutamente nada dizer o que a Igreja tem. Da última vez que vi, o Ordinariato Castrense tinha no banco, e posso-lhe dizer sem qualquer problema, cerca de quatro mil contos (20 mil euros). Dinheiro que vamos poupando e vamos lá pondo.
        há 59 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães E onde é que gasta o seu dinheiro? Tem exuberâncias?

        Não.

        É o único bispo português que vive num andar. Paga a renda...

        Pago a minha renda, claro. Onde às vezes gasto algum dinheiro é em livros. Eu adoro livros, pronto. Mas não faço colecções luxuosas de livros ou de obras antigas. O livro é um objecto de estudo. Gosto de o riscar, de o marcar, respeitando-o, claro. Mas não sou pessoa de acumular coisas. Às vezes recebo presentes e depois distribuo por amigos, família. A única exuberância, se lhe posso chamar assim, são mesmo os livros. Temo o homem de um só livro, como no ditado clássico. Temos de nos abrir ao pluralismo da ciência, do progresso. Por isso, devemos cultivar o gosto da leitura e aprender com os livros no silêncio da nossa casa e no silêncio do próprio livro e também com as pessoas que nos ensinam. E com os acontecimentos.
        há 59 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Ganha-se bem dentro da Igreja Católica portuguesa, actualmente?

        Francamente, acho o salário dos padres relativamente baixo para as responsabilidades que assumem. Mas também posso dizer – há algumas excepções, claro – que, felizmente, o clero não vive uma situação incómoda.

        Dizia há pouco que se pode questionar se um bispo tem determinados bens ou determinados hábitos. A questão está no uso que se dá ao dinheiro?

        E no uso que se dá aos bens. No caso da minha reforma, volto a dizer: são cerca de 2500 euros. Na década de 1970, fui chamado para dar aulas na faculdade. Não como padre, mas graças ao meu desempenho enquanto aluno. E, mais tarde, no caso das Forças Armadas, foi a prestação de um serviço espiritual. Uma vez que aos padres e aos bispos é atribuída uma graduação militar para se inserirem numa cultura muito específica, com certeza que esses padres e bispos devem ganhar o salário normal e justo desses escalões. O problema, como dizia, não é o dinheiro que se ganha. Digo muitas vezes isto: eu tenho alguma culpa de ser filho de pais ricos? Ou de os meus pais, proporcionalmente à população portuguesa, serem considerados mais ricos do que os pobres? Os meus pais foram pessoas da classe média, mas o meu pai era um velho industrial e a minha mãe – que foi uma das primeiras mulheres licenciadas em Portugal – deixou de trabalhar a dada altura, mas foi professora de liceu. Isso faz ou fez de mim uma pessoa pior?
        há 58 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Considera que há cargos que devem ser bem remunerados?

        Claro. É justo que as pessoas aufiram o ordenado que merecem e de acordo com as suas responsabilidades. Não é justo é que existam, no país, tantas disparidades salariais. Tem de haver maior equidade. No entanto, considero que há funções que devem ser muitíssimo bem pagas: um grande operador, um grande cirurgião, um grande professor universitário. Eu acho, por exemplo, que os professores universitários são muito mal pagos. E é uma das carreiras mais nobilitantes, mais sérias e mais importantes. Todo o sector da educação deveria, aliás, ser melhor pago. A mim não me repugna que existam ricos. O que me repugna é que haja um abismo tão grande, na sociedade, entre ricos e pobres. É preciso igualdade de oportunidades. Foi essa a doutrina de um dos meus maiores amigos e a minha sensibilidade política vem daí: de Francisco Sá Carneiro. O que repugnava o Chico era a ideia de que a sociedade portuguesa fosse insensível aos problemas sociais.

        Como conheceu Sá Carneiro?

        Ele pertencia ao movimento de casais “Equipas de Nossa Senhora” e depois vim a encontrá-lo num outro movimento, o Cursos de Cristandade. Conhecemo-nos em 1962. Eu era professor no Colégio da Formiga, em Ermesinde, e ele pediu-me se era possível arranjar lá quartos para os vários casais do movimento se encontrarem e levarem os filhos, aos domingos. Depois foi-se formando um conjunto de amigos. Tínhamos muitas conversas e o que sempre me tocou nele foi a enorme sensibilidade para com as injustiças sociais, os pobres, os maus salários, as condições degradantes de trabalho. Eu gostava de ver, em Portugal, uma nova classe política.
        há 58 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Nilce Pinto estou a responder ao Giovani O Pregador.
        há 57 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Porquê uma nova classe política?

        Primeiro que tudo, eu não entro em políticas partidárias. Entro em política no sentido da defesa do cidadão e do bem comum. Mas o que eu vejo, hoje, é que a classe política usa eufemismos para falar nos pobres: são apelidados de “os mais vulneráveis”, “os mais débeis”. E o que eu gostava de ver era uma nova classe que não tenha dificuldade em pegar nos problemas dos mais pequeninos. E repare que o mundo pobre é muito vasto: a pedofilia, a violência doméstica – no ano passado, 50 mulheres foram assassinadas pelo velho machismo português. Tudo isto faz parte do conceito de pobreza. Tal como também faz parte do conceito de pobreza o desaparecimento de tribunais e pessoas que têm de andar dez quilómetros a pé para ir a um tribunal. Eu pergunto-me: onde está a sensibilidade?

        Diz que não lhe repugnam os ricos, mas não é o Evangelho que diz que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu?

        Sim, mas depois os discípulos perguntaram a Jesus: mas então os ricos perdem-se? E Jesus explicou que não, porque o que é impossível aos homens é possível a Deus. E oxalá Deus toque nos ricos de Portugal. Temos ricos magníficos, mas também temos outros que só vêem o dinheiro. Talvez sejam tocados para que despertem para as suas responsabilidades sociais e comecem a partilhar os seus bens.
        há 56 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Há pouco falou em sensibilidade. Tem faltado sensibilidade a este governo?

        Os políticos merecem respeito. Mas os políticos encartados não, porque fizeram disso a sua carreira. Porque não conseguiram outra. Aquilo que me repugna a mim e a muitos portugueses é a insensibilidade. E não venham cá com cumprimentos e saudações. As pessoas têm vivido oprimidas, estão revoltadas.

        Mas são precisas reformas?

        Eu sempre defendi a necessidade de reformas. Mas o que eu não vejo, ou não vejo de forma proporcional, é o abate das gorduras do Estado – como aliás foi prometido. Ainda há bocado esteve aqui em casa um casal jovem, que está à espera do segundo filho e que me disse que está no limite das suas capacidades. Gostaria que este casal tão jovem, tão digno, tivesse uma vida um pouco mais desafogada para criar os seus filhos. Andamos aí a chorar porque não há crianças em Portugal e qualquer dia somos um jardim de velhos. Precisamos de povoar o país, mas isso não vai acontecer porque a maioria da população está no limite. Repare que os cortes têm chegado de todas as frentes. Choca-me que parte da sociedade portuguesa não tenha sequer dinheiro para pagar uma casa. Sim senhor, que se faça uma reforma. E com certeza que temos de pagar o que devemos. Mas fico muito admirado quando vejo, no Estado, determinados funcionários com determinadas regalias – como por exemplo um motorista de um determinado ministério de que tanto se falou. Ou o menu da Assembleia da República que é altamente afidalgado. Custa-me a acreditar que possa ser verdade. As gorduras do Estado não têm sido abatidas e continuo a pôr o problema de existirem instituições a quem não é aplicado o ditame da troika. Tem havido filhos bastardos e filhos legítimos. E se não houver equidade não há coesão social.
        há 56 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Nilce Pinto » E não é verdade que a Igreja Católica é uma privilegiada?

        Há realmente muita gente que continua convencida que os padres e os bispos não pagam impostos. Mas pagamos. E é bom que paguemos. Eu entendo que no cumprimento de direitos e de deveres devemos ser iguais.

        Seria de esperar, por parte da Igreja, uma posição mais forte relativamente à situação que o país atravessa?

        Acho que a Igreja, mais do que nunca, deveria falar, embora haja aí uns senhores que têm medo. O que não faz sentido: a Igreja deveria sentir-se perfeitamente à vontade para o fazer, porque isso vai ao encontro das directrizes que nos foram dadas. Quando somos ordenados bispos é-nos feita uma pergunta: “Queres ser bondoso e compassivo com os pobres?” E compaixão significa solidariedade. Não deve ser um sentimento romântico, irreal e beato. Mais: quando o Papa esteve cá há dois anos pediu, no encontro com os bispos, para sermos defensores dos direitos inalienáveis da pessoa. Para juntarmos a nossa voz à dos mais débeis, aos que não têm voz própria. E disse-nos para não termos medo de levantar a voz em favor dos oprimidos e dos humilhados.

        Mas poucos bispos têm levantado publicamente a voz.

        Há gente que pensa que levantar a voz é fazer política partidária. Mas não é. Acho que a Igreja deve falar de forma concertada. E tem responsabilidade na matéria, porque toma o partido dos pobres – distribuindo bens através de instituições sociais e centros paroquiais. Por isso, deve estar perfeitamente à vontade para o fazer.
        há 55 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Esse papel concertado cabe a quem? À Conferência Episcopal, ao cardeal- -patriarca?

        A Conferência Episcopal já publicou vários documentos sobre esta questão, neste e em outros períodos conturbados. E o cardeal-patriarca é um bispo igual a qualquer outro, só que foi votado para presidente da Conferência...

        ... por isso deveria ter maiores responsabilidades.

        Quanto a isso, não devo julgar. Só respondo pelas minhas posições e o que eu quero é que me ajudem sempre para eu poder assumir as minhas responsabilidades. Eu falo por mim e só por mim. Pelo meu pensamento, pela minha consciência. Haverá bispos que concordam comigo, outros que não. Eu digo o que penso quando a minha consciência o dita. Se agora há guerra na Síria, eu acho horroroso que se deixe morrer um povo. Como acho horrorosa a política do Irão. Como acho horroroso que certos partidos em Portugal – e é uma pergunta que coloco à minha consciência – tenham a pouca sorte de ter lá um conjunto de cidadãos que são hoje conhecidos em todo o país pela sua corrupção, pelos roubos e por outras coisas que operaram. É que não são um, nem dois, nem três.
        há 55 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães E de onde vem essa corrupção?

        Como diz S. Paulo, a raiz de todos os vícios é o dinheiro. Mas o dinheiro em si, ou mesmo o lucro, não são um problema. O problema é o lucro gigantesco enquanto sanguessuga daqueles que nem sequer podem ter acesso àquilo que dá lucro, a uma moedazinha que seja... isso sim é o problema. E tudo isto em que nos encontramos é fruto do dinheiro, da ânsia de prestígio social e de poder. Quem tem dinheiro tem poder e quem tem poder raramente vive sem dinheiro. Eu conheço empresários magníficos, que são os primeiros a dizer-me que são uma excepção. Há um certo número de empresários portugueses que são perfeitamente inaptos, não tiveram formação nem cultura, e que querem ganhar dinheiro de qualquer forma. E isto, hoje, acontece em qualquer profissão. Dou um pontapé no outro, passei à frente do outro, utilizei a mentira, acusei o outro? Isso não interessa. E isso repugna-me. Precisamos hoje de um Padre António Vieira, porque há índios que estão a ser maltratados. Precisamos de um Ximenes Belo, que pôs de pé a autonomia de Timor ou de um João Paulo II, que teve a coragem de dizer que há ideologias mortíferas. Eu tenho a impressão que o primeiro golpe contra o muro de Berlim veio do Papa. E esta ditadura da austeridade... não haverá hoje uma outra nova ditadura?
        há 54 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Há uma dívida que é preciso pagar.

        E eu estou de acordo com isso: pagar aquilo que pedimos. Mas como gente honesta que somos – e temo-lo demonstrado – poderíamos pagar mais devagar para que a cauda da procissão não seja calcada pela dívida. Porque no termo de todo este pagamento, lá para 2020 – e eu amo o meu país, as pessoas do meu país e bato-me pela paz social –, nessa altura vamos ter uma multidão desenfreada de pobres. Pagámos a dívida dos ricos, mas nasceu uma multidão de pobres e revoltados em Portugal. Não tenho dúvidas de que é isso que vai acontecer no futuro. E foi por isso que eu há tempos disse que era preciso ir para a rua fazer democracia.

        Mas aconselha e incentiva os portugueses a irem para a rua?

        Nesta altura não resolvemos nada indo para a rua no sentido de destruir. Mas a CGTP, por exemplo, é um modelo de cidadania – e há muita gente que vai ficar zangada por eu dizer isto. As manifestações a que tenho assistido, o primeiro de Maio... Eu no ano passado fui ver o protesto dos professores. Estive lá, fui ver. E o que é que aquilo significava? Significava o desacordo relativamente à condução de um sistema pedagógico. Estamos numa democracia! E ninguém virou carros ou partiu montras. Uns fazem guerra, outros fazem amor. Mas a missão de qualquer cidadão é fazer democracia.
        há 54 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães Sabes Giovani O Pregador existem uns versos na Bíblia que falam: "Leva a tua salvação com amor e tremor!". É por aí. Temos que ser realistas. A agenda da unidade continua presente em praticamente todas as igrejas e movimentos. Ela é mais urgente do que nunca, assim como é urgentíssimo buscar uma base de entendimento entre as religiões em favor da consecução da paz no mundo, declarou o moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Walter Altmann.
        há 50 minutos ·  · 1
      • Luís Magalhães É que o cenário religioso mudou muito em relação aos tempos passados. Ele está mais diversificado, são impulsos internos nas próprias igrejas, mas são também impulsos externos do processo de globalização, da pós-modernidade, que também propiciam fragmentação, competição, e outros fatores como a agilidade nas comunicações, as migrações, e assim por diante.
        há 49 minutos ·  · 1

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